Rio Branco tem registro de enchentes em 41 dos últimos 52 anos
Documento elabora plano de mitigação da emergência climáticas e aponta processo desordenado de ocupação do solo como uma das principais causas para inundações
Por Redação Galileu
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O Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças do Clima de Rio Branco, no Acre, criado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e pela prefeitura da cidade, conseguiu mapear as ocorrências de enchentes das últimas cinco décadas. De acordo com o documento, 73% das enchentes e inundações de alto risco ocorrem em fevereiro e março e, dos últimos 52 anos, Rio Branco registrou enchentes em 41.
“Cientificamente, temos uma clareza maior para entender o quanto esses eventos estão ligados à crise climática causada pela ação humana. A implementação de políticas públicas para adaptação e mitigação, por parte do poder público, é fundamental", comenta, em comunicado, Jarlene Gomes, pesquisadora e porta-voz do Ipam em Rio Branco.
Os pesquisadores analisaram dados de inundações que aconteceram entre os anos de 1971 a 2019, somando as enchentes de 2020, 2021, 2022 e 2023, e criaram alternativas para diminuir os impactos desses desastres na cidade. Elaborado pela iniciativa de Governos Locais Pela Sustentabilidade para América do Sul em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Ipam, o plano começou em 2020 e ainda não foi implementado.
O documento traz um plano de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, com diagnósticos específicos e definição de ações prioritárias para lidar com momentos de desastres. O texto aponta como principal motivo para a capital ter se tornado uma área de alto risco para inundações e enchentes o processo desordenado de ocupação do solo, desalinhado ao Plano Diretor Municipal.
Na última sexta-feira (24), a prefeitura decretou situação de emergência no Acre. O motivo foram os impactos do transbordamento do rio Acre e de sete igarapés neste ano, que atingiu, de acordo com o estudo, mais de 20 mil habitantes
“É preciso criar e implementar, com urgência, planos que olhem para além das ações emergenciais, mas também para ações de médio e longo prazo de enfrentamento à mudança do clima em todos os municípios", avalia Gomes. "Afinal, é neles que se dá a primeira resposta aos desastres, para que não ocorram mais tragédias que poderiam ter sido evitadas.”
Na análise de enchentes e inundações dos últimos 52 anos, foi possível detectar que a intensidade das chuvas começa a aumentar a partir do mês de novembro e que, de dezembro a maio, o nível do rio Acre pode subir. Outro dado do estudo, mostra que o mês de abril também já teve registros de enchentes de médio e grande porte, como as que ocorreram em 2009 e 2011.
Somente no município de Rio Branco, a cota de alerta do rio Acre (que tem sua nascente no Peru e desagua no Brasil) é de 13,5 metros, e a de transbordamento, de 14 metros. De acordo com o estudo, a cota de alerta é definida como a cota que sinaliza a iminência do transbordamento. Já a cota de transbordamento se trata da concretização do transbordamento do Rio Acre de seu leito normal.
A partir dos 14 metros, as residências construídas nas áreas de riscos começam a ser afetadas pelas águas. Nesta terça-feira (28), o nível do rio Acre chegou a 16,84 metros, segundo boletim da Defesa Civil.
Somente no último ano, o rio Acre se elevou a 18,4 metros, mais de 4 metros acima da cota de inundação do município, o que foi suficiente para causar "impactos significativos no que diz respeito aos danos (humanos, materiais e ambientais) e prejuízos (econômicos e sociais)”.
Ainda segundo o plano, pequenas enchentes foram registradas em 14 dos 52 anos analisados; médias, em 10 anos; grandes, em 9 anos; e extraordinárias, em 4 anos (1988, 1997, 2012 e 2015). Se considerar apenas as enchentes ocorridas no período observado, a última metade de século 20 em Rio Branco teve apenas 9 anos sem registro de enchentes.
“Na parte de adaptação, precisamos de mais alternativas de estrutura para as cidades. São impactos que vão além do ambiental e devemos fazer uma reflexão sobre como vamos lidar com isso daqui para a frente”, conclui Jarlene Gomes