‘Estamos pensando em campanhas de vacinação diferentes, porque o atual modelo é falho’, diz diretor do Ministério da Saúde
Distribuição de aplicações da gripe chegou a 25% do público-alvo; algumas capitais, como o Rio, já abriram a aplicação de doses para o público em geral
Por Mariana Rosário — São Paulo
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O Brasil precisará adaptar suas campanhas de vacinação se quiser aumentar a adesão às doses, avalia o diretor do Programa Nacional de Imunizações, Éder Gatti. O país, diz o médico infectologista, está em uma queda progressiva da adesão de antígenos como o da gripe (causada pelo vírus Influenza) — a atual campanha que acaba no fim do mês atingiu somente 25% do público que pode receber as doses. Uma proposta para atenuar a questão, diz Gatti, é dar maior protagonismo aos municípios, com ações amparadas pelo Ministério da Saúde.
— As campanhas de vacinação terão que ser pautadas de forma diferente, está claro. Não basta oferecer as vacinas para os municípios e entregar a eles a responsabilidade da vacinação. Existe o desafio de comunicar num cenário de ampla disseminação de desinformação — diz Gatti.
O diretor diz que está em fase de estruturar mudanças na multivacinação, programa baseado nas doses de rotina disponíveis em todo o ano (majoritariamente oferecidas às crianças). Trata-se de uma mudança baseada na formação de uma rede de apoiadores. Desse modo, a lógica da campanha é focar nos municípios, que determinarão quais ações fazem sentido para aumentar a adesão às doses. Busca ativa em escolas e espaços públicos, por exemplo, podem ser alternativas. Caberá ao Ministério da Saúde, porém, capacitar os municípios a fazer esse serviço.
— Faremos coisas diferentes. Vamos preparar um microplanejamento, planejar a partir da realidade de município, o que incluí vacinar em escolas, fora dos muros (dos postos de saúde) e ampliar horários de aplicação — afirma. — Vamos transferir recursos para que os estados e municípios desenvolvam essas ações, uma coisa que o PNI não faz há muitos anos.
O planejamento começou pelo estado do Amazonas, neste mês e deve se estender ao Acre, diante do risco da reintrodução da poliomielite, ainda neste semestre. A ideia é que o novo plano vá gradativamente atingindo todo o país.
— Estamos pensando em campanhas de vacinação diferentes para a multivacinação, porque o modelo que foi adotado até hoje no Brasil tem se mostrado falho, por dificuldade na divulgação e acesso.
No caso da imunização para a gripe, contudo, a mudança ficará para o ano que vem. Para a atual etapa de vacinação, a pasta ainda precisa avaliar junto aos Conselhos Nacionais de Secretários de Saúde (Conass) e com o Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde (Conasems) se irá ampliar a aplicação de doses para o público em geral— uma vez que pode ocorrer sobra de doses.
Capitais ampliam vacinação da gripe
Vislumbrando a possibilidade de que as vacinas fiquem paradas, alguns municípios começaram a autorizar a vacinação de pessoas além do público-alvo. É o caso do Rio de Janeiro, Goiânia (GO), Porto Velho (RO) e Salvador (BA), São Luís (MA) e mais Campo Grande (MS), que deve ampliar o púbico que receberá as doses ainda nesta semana.
— Já vi sobrar vacina de gripe e perder. Se a dose passar esse inverno (reservada), não dá mais para usar. Pois a vacina é focada em cepas atuais. Portanto, temos que abrir para vacinar antes do inverno. Ainda estamos vendo os casos em avanço, já temos seis mortes por influenza na cidade do Rio. Se não der para vacinar o público-alvo, temos que vacinar o máximo de pessoas — diz Daniel Soranz, secretário de Saúde do Rio.
Especialistas em saúde acreditam que é preciso uma abordagem ampla e multifatorial para conseguir aplacar o problema da baixa adesão de vacinas.
— Existe uma particularidade nesta vacinação (da gripe) ela depende da temporada em que ocorre. Se há uma presença maior, uma infecção mais potente, isso acaba chamando a atenção da população que viu gente internada, conhece pessoas que passaram por isso — diz Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). — A pandemia da Covid-19 e a onda de desinformação e de descredibilização das vacinas também têm afetado as demais vacinas do calendário. É um misto de situações. As campanhas ainda são tímidas, muito informativas. Não sensibilizam as pessoas, não tocam em suas emoções. Para transformar alguém é preciso mostrar que a pessoas estão sob risco.