Na OMS, Nísia Trindade fala sobre descentralizar produção de medicamentos

• Brasil volta a ter relações com a Organização • Fila de transplantes de córnea • Reforços para crise no Amapá • Escassez de vacinas de cólera • Vacina contra mpox é eficaz •

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Em discurso na 76ª Assembleia Mundial da Saúde, na OMS, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, enfatizou a importância da equidade em saúde, da cultura de paz e do multilateralismo. Além de ressaltar a necessidade de aprender com a pandemia de covid-19 e preparar-se para as próximas, Nísia enfatizou a urgência de descentralizar a produção de medicamentos: “[Temos que] trabalhar para reduzir as desigualdades e dentre elas a desigualdade de acesso aos benefícios do conhecimento científico e tecnológico”. “Em tempos de inteligência artificial e avanços na saúde digital, é crucial que essas sejam ferramentas acessíveis e eticamente orientadas”, também frisou. O tema central do discurso da ministra foi a luta contra as desigualdades e pela garantia de acesso à saúde em todo o mundo. Ela defende que a OMS desempenhe papel de liderança numa nova arquitetura global da saúde, para garantir que iniquidades como as vistas na pandemia não se repitam – mas também “para que as vozes dos Estados e de suas populações, sobretudo as negligenciadas, possam ser ouvidas” (leia a íntegra). 

“O Brasil está de volta”

Seu discurso também representou uma virada de chave nas relações políticas do Brasil com a OMS, comenta Jamil Chade em sua coluna no UOL. Durante o governo de Jair Bolsonaro, a relação entre o Brasil e a Organização foi tensa, com críticas, recusa em seguir recomendações e questionamento da competência da agência. Durante encontro do G20 em 2021, em uma conversa com o presidente da OMS, Tedros Adhanom, Bolsonaro fez troça e lançou dúvidas sobre a necessidade de isolamento social para conter a pandemia. Depois, chamou Tedros de “pessoa controversa” a seus apoiadores. O Brasil também deixou de fazer pagamentos obrigatórios para a OMS desde meados de 2016 – devemos cerca de 50 milhões de reais, segundo a Veja. Uma parte importante da fala de Nísia deixa isso claro: “O Brasil voltou para somar sua voz e sua atuação em defesa da equidade em saúde, da justiça e da solidariedade internacional”. 

Fila para transplantes de córnea chega a mais de dois anos de espera

A lista de espera por transplantes de córnea no Brasil quase dobrou desde 2019, passando de cerca de 12 mil pacientes naquele ano para mais de 24 mil em março de 2023. Segundo a Folha, esse aumento ocorreu em especial durante o primeiro ano da pandemia de covid-19, que afetou a realização de procedimentos médicos, incluindo transplantes. Já em 2021 e 2022, os números voltaram a ficar mais próximos da realidade anterior – cerca de 7 mil ao ano; entre 2012 e 2019 foram 8.388 ao ano. Mas o represamento durante 2020 exigiria que o ritmo fosse muito maior, para que as coisas voltassem ao normal. O tempo de espera varia de estado para estado, e pode chegar a dois anos e dois meses – caso do Pará. A falta de bancos de tecidos oculares em algumas regiões também contribui para as diferenças regionais na disponibilidade de transplantes. Em reportagem especial, Outra Saúde tratou da grande fila de exames e cirurgias pós-pandemia e das medidas para reduzi-la. 

SRAG: Começam a chegar reforços para a crise no Amapá

A Marinha do Brasil enviou dois tanques com 12 mil toneladas de oxigênio e equipamentos hospitalares para o Amapá, em resposta à emergência em saúde pública causada pelo aumento nas internações de crianças com síndromes gripais. Segundo o Globo, o navio com os insumos partiu do Pará e deve chegar hoje (23/5) ao porto de Santana, próximo à capital do Amapá. O estado decretou emergência devido ao crescimento de casos, com um aumento de 108% nas internações entre janeiro e maio. Além do oxigênio, o navio também leva equipamentos como vaporizador atmosférico e misturador de ar medicinal. A medida visa fortalecer o sistema de saúde e garantir atendimento adequado em casos graves de gripe. Como já exposto no Outra Saúde, foram 190 internações por síndrome gripal desde janeiro, 109 delas só no Hospital da Criança e do Adolescente e no Pronto Atendimento Infantil. Entre os internados, 29 foram entubados. A maioria dos pacientes tinha entre sete meses e quatro anos de idade. 

Aumento de surtos de cólera faz crescer escassez de vacinas

A escassez de vacinas contra a cólera deve persistir até 2025, de acordo com a Aliança Global para Vacinas (Gavi), devido ao aumento de surtos da doença em todo o mundo, relata a Reuters. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também alertou para a dificuldade de controlar a doença a curto prazo. A falta de doses ocorre mesmo com a redução temporária para uma dose única da vacina e a demanda atual está sendo atendida apenas em situações de emergência. A cólera continua a se espalhar para novas regiões, especialmente áreas afetadas por conflitos e com altos níveis de pobreza. Segundo a OMS, em fevereiro de 2023 havia surtos em alguns países da África – como Somália, Etiópia, Moçambique, República Democrática do Congo e Nigéria –, na Ásia Meridional e nas Filipinas. A Gavi espera que o fornecimento melhore a partir de 2026, com o aumento da produção por parte dos fabricantes existentes e a entrada de uma nova empresa no mercado. No entanto, é necessário um planejamento mais eficiente para garantir que as vacinas sejam distribuídas onde são mais necessárias, incluindo campanhas preventivas.

Estudos confirmam eficácia de vacina contra mpox

Três novos estudos confirmam que a vacina Jynneos oferece proteção real contra a mpox, a antes mal-chamada varíola dos macacos, sendo mais eficaz com duas doses em comparação com uma. A efetividade da vacina variou de 66% a 88% com duas doses e de 36% a 75% com uma dose. A dosagem intradérmica, que requer apenas um quinto da dose e é injetada entre as camadas da pele, mostrou proteção equivalente à injeção convencional sob a pele. Embora algumas dúvidas ainda persistam, como a eficácia em grupos imunocomprometidos e a duração da proteção, a vacinação continua sendo uma medida importante para prevenir a propagação do mpox, mesmo que não impeça completamente a infecção. Agora, é preciso garantir que essa vacina seja produzida em larga escala e a preços acessíveis para habitantes de países da África Central e Ocidental, como Camarões e Nigéria, onde a doença é endêmica há anos, mas ignorada pela indústria farmacêutica.

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