São Paulo vai fechar maternidade de referência no atendimento de prematuros

A maternidade do Hospital Municipal Gilson de Cássia Marques de Carvalho - Santa Catarina, na zona sul de São Paulo, vai fechar as portas em agosto. Todos os funcionários da unidade serão demitidos e o serviço será remanejado. A unidade é conhecida por ser referência no tratamento de bebês recém-nascidos de alto risco.

O que aconteceu

Hospital passa por uma reestruturação. Segundo a prefeitura, o foco agora está em ampliar o atendimento oncológico. Os casos de bebês prematuros de alto risco serão encaminhados para a maternidade do Amparo Maternal (veja nota na íntegra abaixo).

Funcionários relatam problemas em negociações de recursos. A reestruturação do hospital não teria relação com o número de atendimentos na UTI neonatal ou a qualquer questão associada à maternidade, conforme funcionários do hospital, que pediram para não ser identificados. O problema estaria na negociação de recursos entre o Einstein, organização social responsável pela gestão do hospital, e a prefeitura.

Déficit de R$ 5 milhões, porque prefeitura congelou orçamento. Hoje, o hospital precisa de R$ 42 milhões por mês para manter todas as atividades. No entanto, a prefeitura decidiu congelar o orçamento em R$ 37 milhões. Com isso, ficaria um déficit de R$ 5 milhões por mês. Como não houve um acordo sobre valores, a prefeitura optou por fechar a maternidade.

Hospital fez parto de bebê de 335 gramas

A maternidade é responsável por realizar 300 partos de risco por mês, possui mais de 550 internações ao ano na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e na semi-intensiva. Ao longo do ano, cuida de 60 prematuros com menos de 1,5 kg e mais de 60 casos de pré-natal de alto risco.

Menor bebê nascido em um hospital do SUS. Um desses partos foi o de Emanuelly, que nasceu com 335 gramas e 25 centímetros, em novembro do ano passado.

Como era uma bebê muito pequena, o acompanhamento foi de cinco meses. Havia a necessidade de ter um equipamento adequado para intubar, para que ela pudesse respirar. Além disso, foram usados ventiladores com precisão exata. Toda a alimentação foi feita de forma venosa, porque o aparelho digestivo ainda estava em formação. Neurologista, oftalmologista e toda a equipe acompanharam o desenvolvimento de Emanuelly durante cinco meses — ela saiu do hospital medindo 43 cm e pesando 2,34 kg.

População será a mais atingida, dizem funcionários. A UTI está sempre em plena capacidade. Com o número alto de pacientes, era necessário usar como UTI o espaço da unidade de cuidados intermediários para atender a todos.

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Não sei, honestamente, se o Amparo terá condições de atender mais essa demanda, uma vez que todo o sistema de saúde está no limite. Sentimos muito, porque a população perde o atendimento de referência, com a qualidade de serviços de um grande hospital particular. Funcionário do hospital

O que diz a Secretaria Municipal de Saúde

Hospital "está sendo totalmente estruturado". Em nota, a secretaria afirma também que outra unidade vai absorver a demanda do Santa Catarina.

A SMS (Secretaria Municipal da Saúde) informa que o Hospital Municipal (HM) Gilson de Cássia Marques de Carvalho - Santa Catarina está sendo totalmente estruturado para atendimento específico de alta complexidade na especialidade de oncologia, visando atender a demanda da população. Neste momento, a maternidade do hospital está voltada para partos de alto risco.

A pasta ressalta ainda que ampliou o Amparo Maternal para atender as gestantes do município, inclusive, a Saúde da capital dispõe de outras maternidades para atendimento das gestantes na cidade de São Paulo.
Secretaria Municipal de Saúde

A reportagem também procurou o Hospital Israelita Albert Einstein, que preferiu não se manifestar. Por meio da assessoria de imprensa, a unidade informou que apenas a SMS iria falar sobre o assunto.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • A bebê Emanuelly nasceu em novembro do ano passado, e não em abril. O texto foi corrigido

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