Por Júlia Carvalho, Poliana Casemiro, Roberto Peixoto, g1


  • Incorporação do imunizante no Sistema Único de Saúde (SUS) custaria R$ 9 bilhões em 5 anos.

  • Atualmente, a vacina do laboratório japonês está disponível somente na rede privada.

  • No ano, Brasil teve 1,5 milhão de casos prováveis de dengue, alta de 16,5% em relação a 2022.

Frascos de teste da vacina contra a dengue da Takeda. — Foto: TAKEDA/DIVULGAÇÃO

A vacina contra a dengue Qdenga é considerada cara e de aplicação muito restrita pelo Ministério da Saúde. Segundo o órgão, a incorporação do imunizante no Sistema Único de Saúde (SUS) traria um impacto de cerca de R$ 9 bilhões em cinco anos, considerando as faixas etárias de 4 e 55 anos propostas pela farmacêutica Takeda Pharma.

Atualmente, a vacina do laboratório japonês está disponível somente na rede privada. O imunizante foi aprovado em março pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O ministério pediu mais informações ao fabricante sobre o preço proposto por dose, além da capacidade de produção da vacinação. Para a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), os esclarecimentos são essenciais para a deliberar sobre a inclusão da vacina no SUS.

"Para essas faixas etárias restritas, a incorporação, conforme proposta, traria um impacto orçamentário muito elevado, de cerca de R$ 9 bilhões em cinco anos", afirmou o ministério em nota ao g1.

Além deste ponto, o ministério ainda coloca mais duas ressalvas:

  • a vacina não é indicada para a população mais vulnerável aos casos graves e mortes por dengue (crianças abaixo de 4 anos e idosos acima de 60 anos);
  • a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a vacina Qdenga para o público entre 6 e 16 anos, que também não está contemplado na proposta enviada pela Takeda à Conitec.

A dengue é transmitida pelo mosquito africano Aedes aegypti. — Foto: Lauren Bishop

Entre os esclarecimentos solicitados pelo Ministério da Saúde à empresa estão:

  • Informações sobre a capacidade produtiva do laboratório e o quantitativo a ser entregue ao Brasil.
  • Explicações sobre a faixa etária considerada na proposta de incorporação e sobre a não inclusão de outros públicos.
  • Negociação do preço estabelecido pelo fabricante, uma vez que o valor por dose está muito acima do que qualquer outro presente no Programa Nacional de Imunizações (PNI).

De acordo com a bula do imunizante aprovado pela Anvisa, a vacina não é indicada à população mais vulnerável a casos graves da doença, como crianças abaixo de 4 anos e idosos acima de 60 anos.

Assim que a farmacêutica encaminhar as informações complementares, a Conitec deve voltar a analisar a inclusão da Qdenga no SUS. A partir dos novos dados, o PNI deve analisar a proposta considerando a estratégia nacional de prevenção e controle da dengue.

O que diz a farmacêutica

Em nota, a empresa Takeda Pharma afirmou que, até a última sexta-feira (10), não havia sido notificada sobre os esclarecimentos por parte da Conitec.

Com relação ao valor da vacina, o laboratório diz que mantém esforços para estabelecer um diálogo com o Ministério da Saúde para viabilizar o acesso da população brasileira ao imunizante. A farmacêutica reitera seu compromisso com uma proposta comercial viável, que respeite a sustentabilidade financeira do SUS.

A Takeda reforça ainda a efetividade da Qdenga e o potencial da vacina de se tornar um aliado importante no combate à dengue no Brasil.

Sobre a vacina Qdenga

Desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda Pharma, a vacina Qdenga (TAK-003) é o primeiro imunizante aprovado no Brasil para pessoas que nunca entraram em contato com o vírus da dengue. Ele também pode ser aplicado em quem já teve a doença.

Ao longo dos ensaios clínicos, a Qdenga demonstrou ter uma eficácia geral de 80,2% contra a doença após 12 meses da segunda dose. A vacina reduziu em 90% as hospitalizações por dengue.

Segundo a Anvisa, a vacina é indicada para a faixa etária de 4 a 60 anos. Ela é aplicada em um esquema de duas doses, com intervalo de três meses entre as aplicações.

Números da dengue no Brasil

Em 2023, o Brasil já tem mais de 1,5 milhão de casos prováveis de dengue, de acordo com o boletim mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde. O número ultrapassa o total registrado em 2022 e representa uma alta de 16,5% na quantidade de casos contabilizados no mesmo período do ano anterior.

O aumento é semelhante quando observados os casos graves da doença. Foram confirmadas 21.624 incidências de dengue grave, uma alta de 16,4% em relação a 2022. Com relação aos óbitos, houve registro de queda de cerca de 15%, com o registro de 964 óbitos contabilizados até o início de setembro.

O ministério detalha que a média de idade dos óbitos confirmados é de 66 anos, com predomínio do sexo feminino. Quase 90% das pessoas que morreram por conta da doença apresentavam algum tipo de comorbidade.

Em 2022, o país registrou números recordes da doença: foram 1.016 mortes e 1.450.270 casos prováveis – um aumento de 162,5% se comparado com 2021.

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