Apagão faz remédio de alto custo estragar: 'Não posso pagar R$ 3,3 mil'
A dona de casa Viviane Almeida, de 34 anos, conta que perdeu os medicamentos de alto custo usados pelo filho devido à falta de energia elétrica que já dura mais de 72 horas na região onde mora, no Jaceguava, extremo sul de São Paulo.
A energia acabou por volta das 16 horas da última sexta-feira (3) e até agora não voltou. Viviane é uma entre os milhares de moradores de São Paulo que enfrentam transtornos com a falta de energia elétrica na cidade.
Um dos filhos dela, de 12 anos, tem um problema na glândula hipófise e usa somatropina, um hormônio de crescimento de alto custo que Viviane retira mensalmente pelo SUS e que deve ficar refrigerado.
Viviane conta que guardava 11 caixas para novembro, mas o armazenamento incorreto vai impedir o uso dos remédios —e a dona de casa não tem como arcar com os medicamentos por conta própria.
Na sexta, eu ainda tinha o gelox [gelo reutilizável], que estava congelado, durinho. Aí eu coloquei dentro da bolsa e na geladeira, mas já virou água. A geladeira mesmo está em temperatura ambiente.
"Agora, vou ter de esperar o próximo mês para conseguir retirar tudo de novo, porque são remédios caros. Não tem como comprar, não posso pagar R$ 3,3 mil. E eu já estava com esse medicamento para o mês de novembro todo. É um prejuízo alto", diz.
Segundo ela, em farmácias convencionais, cada caixa pode ser comprada por cerca de R$ 300. Na última semana, para usar durante o mês de novembro, ela retirou pelo SUS 11 caixas para o filho —o que totalizaria R$ 3,3 mil.
"O remédio é o que mais me deixou preocupada porque, sem ele, meu filho não cresce. É um tratamento que ele já estava fazendo há uns quatro anos", explicou Viviane.
A bula da somatropina indica que o medicamento "deve ser mantido em sua embalagem original, sob refrigeração entre 2 a 8 °C, protegido da luz, nas prateleiras da geladeira".
Quedas de energia são frequentes
A dona de casa também perdeu alimentos, e o prejuízo só não foi maior porque ela ainda não tinha feito compras neste mês.
"Minha geladeira tinha mistura para dois, três dias. Agora, a gente está cozinhando o suficiente para o almoço e janta para não estragar, porque não tem como refrigerar."
Viviane conta que já está acostumada a lidar com a queda de energia na região, mas a luz nunca demorou tanto para voltar. Em outras ocasiões, por causa de vento e chuva, ela conta que ficou entre cinco e seis horas sem energia elétrica.
Nesta segunda-feira, a dona de casa optou por não mandar os filhos para a escola porque lá não tem gerador. Em casa, ela e a família estão se virando como podem para cumprir atividades básicas do dia a dia.
A gente liga o carro, coloca um pouquinho de carga em um celular, coloca um pouquinho no outro. Para tomar banho, estamos esquentando água para tomar de balde, para pelo menos fazer a higiene básica.
A casa dela tem caixa d'água, mas os vizinhos que dependem de água da rua também estão sem abastecimento.

Enel diz que trabalha 24 horas por dia
A Enel informou em seu site que restabeleceu a energia para 76% dos clientes "que tiveram o fornecimento impactado após o forte vendaval que atingiu nossa área de concessão".
"A tempestade foi a mais forte dos últimos anos e provocou danos severos na rede de distribuição. Nossos esforços estão concentrados em reconstruir os trechos destruídos e normalizar o cenário."
A empresa disse, ainda, que os profissionais trabalham "24 horas por dia para normalizar o fornecimento o mais breve possível".
20 comentários
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Johnny Gonçalves
Ao menos 55 países cancelaram privatizações nos últimos 10 anos. EUA, Alemanha e França lideraram a lista e reestatizaram serviços essenciais como energia, saneamento e coleta de lixo, entre outros. Depois que entregam uma empresa pública, o lucro vai para o exterior, milhares de empregados são demitidos, as tarifas aumentam, os serviços pioram, regiões ficam desassistidas e o país perde soberania sobre recursos estratégicos. Bolsonaro entregou a Eletrobras e agora sofreremos as consequências. Bolsonaro também entregou refinarias aos árabes e trouxe um pacote de joias no avião. Os grandes meios de comunicação tem fortes laços com esse mercado e iludem os seus leitores e telespectadores, prometendo mundos e fundos. Na prática, adquirentes, mídia e propineiros ganham dinheiro e o usuário fica com o abacaxi. Privatizar é coisa de mercenários.
Mauricio Maia de Azevedo
Isso é bom p/a população brasileira, especialmente a rica paulistada, entender algumas coisas sobre serviços privatizados: 1) o objetivo da empresa é ter um alto lucro, e não necessariamente prestar bons serviços; 2) para perseguir seus lucros máximos, a empresa DEMITE tanta gente quanto puder, supondo q nada de errado acontecerá; 3) toda empresa - estatal ou privada - q trabalha em setor essencial, como águas, energia e transporte, precisa ter pessoal A MAIS, e não A MENOS, justamente por causa das situações de emergências, q ocorrem de modo massivo quando vêm; 4) não há como se ter bons serviços e tarifas muito baixas - há quase uma impossibilidade nisto; 5) empresa privada tb presta serviços ruins; 6) contratos mal feitos de privatização resultam em situação ainda pior: tarifas altas e serviços ruins. Enfim, não é por ser estatal ou privado q é inerentemente RUIM ou BOM. Tudo depende, especialmente das lideranças.
Joao Batista
O setor que funciona bem na Enel é o caixa de recebimento de faturas.