No Brasil, 190 mil pessoas que sabem que vivem com HIV/Aids ainda não iniciaram o tratamento. Os dados são do boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde nessa quinta-feira (30).

O diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Draurio Barreira, disse que esse número corresponde a 19% da população já diagnosticada com a doença.

Das 731 mil pessoas diagnosticadas e atualmente em tratamento, 95% não têm a detecção da carga viral. Isso significa que, por meio do tratamento, essas pessoas conseguiram atingir um estado em que o vírus se torna indetectável e, portanto, não transmissível.

“São pessoas [que não fazem o tratamento] que não conseguem chegar no sistema, não porque não tenha o serviço de saúde para quem precisa, mas porque são jovens gays, trans, profissionais do sexo, mulheres sem informações, negras, jovens, pardas, periféricas que esse acesso não é facilitado”, disse.

Estima-se que um milhão de pessoas vivam com HIV no Brasil. Desse total, 650 mil são do sexo masculino e 350 mil do sexo feminino. De acordo com o Relatório de Monitoramento Clínico do HIV, na análise considerando o sexo atribuído no nascimento, as mulheres apresentam piores desfechos em todas as etapas do cuidado.

Enquanto 92% dos homens estão diagnosticados, apenas 86% das mulheres possuem diagnóstico; 82% dos homens recebem tratamento antirretroviral, mas 79% das mulheres estão em tratamento; e 96% dos homens estão com a carga viral suprimida —quando o risco de transmitir o vírus é igual a zero— mas o número fica em 94% entre as mulheres.

O boletim revela que no Brasil ocorreram 43.403 novos casos de HIV, com 73,6% registrados em indivíduos do sexo masculino e 26,6% no sexo feminino. Dessas ocorrências, apenas 31% dos afetados possuem o ensino fundamental completo.

Quanto à aids, foram identificados 36.753 novos casos em 2022, com 71% deles sendo do sexo masculino e 28,9% do sexo feminino. Neste grupo, 27,1% possuem apenas o ensino fundamental completo.

“Em todos esses casos a prevalência é maior em pessoas pretas e pardas. “O que chama mais a atenção, porque a Aids é uma taxa avançada de HIV e é quem chegou tardiamente na unidade de saúde, o nível de escolaridade é ainda mais baixo”, destacou Barreira.

No Brasil, 10.994 pessoas morreram por conta da Aids, sendo que 61,7% são pretas e pardas e 51,7% têm entre 35 a 54 anos.

A pasta quer ampliar o número de pessoas diagnosticadas. Para isso, comprou 4 milhões de unidades de um teste rápido que detecta, simultaneamente, sífilis e HIV. A inclusão do teste inédito no SUS fortalece o rastreio e tratamento mais ágil para a população.

Outro anúncio neste ano foi a diminuição da quantidade de comprimidos ingeridos diariamente para as pessoas que vivem com o vírus. Em vez de dois, será um. O medicamento combina dois antirretrovirais, ambos fornecidos pelo SUS: lamivudina e dolutegravir.

O remédio facilita a vida do usuário, evita efeitos colaterais e mantém a carga viral controlada. A troca desse esquema terapêutico será realizada de forma gradual.