A resistência de bactérias aos antibióticos convencionais é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das dez maiores ameaças para o avanço das ciências medicinais. Buscar soluções para essa resistência crescente requer uma união de esforços globais e, nesse sentido, o evento internacional Antimicrobial Resistance Hackathon, que debateu o tema, teve a preocupação de contar com contribuições do Journal Trinity College, do Reino Unido, faculdades paulistas e outros pesquisadores do mundo todo.
A professora Silvia Figueiredo Costa, infectologista chefe do Laboratório de Resistência a Antibióticos do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica a importância do evento e quais soluções são estudadas para esse problema.
Por que as bactérias estão ficando mais resistentes?
Segundo a especialista, o uso geral de antibióticos forma, com o processo de seleção natural, bactérias cada vez mais resistentes, que exigem a produção de remédios cada vez mais potentes. Ela afirma que, hoje em dia, os antibióticos são utilizados em diversas outras áreas além da saúde humana: “Nós temos agora um conceito chamado de saúde única, em inglês, one health. O que significa isso? Que o uso de antibióticos não acontece apenas para os humanos, mas também para os animais e na agricultura”, explica.
Outros fatores que contribuem muito para o aumento da resistência microbiana é, de acordo com a professora, a falta de saneamento básico e o descarte inadequado dos antibióticos: “O descarte inadequado da droga, no uso na agricultura, contamina o ambiente. Então é possível achar antibióticos e bactérias existentes nas praias, nos rios e no esgoto que não é tratado, e em lugares onde não tem saneamento básico, outro problema é a água também, porque, da mesma maneira, a água pode ser contaminada com um antibiótico e com as bactérias existentes”.
Esforços globais e multidisciplinares
A pandemia de covid-19 mostrou ao mundo a importância dos países contribuírem para a saúde pública, e as superbactérias, além de atingirem diversas partes do mundo, afetam também diversas áreas do conhecimento. O evento contou com, além de profissionais e pesquisadores da saúde humana, veterinários, engenheiros e profissionais de inteligência artificial.
“Esteve presente também um representante da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, para que nós pudéssemos pensar em soluções diante de um problema que é colocado. Os grupos são divididos e as pessoas tentam resolver aquele problema de maneira rápida para que não aconteça uma epidemia, por exemplo, de bactérias resistentes a todos os antimicrobianos. Seria um problema terrível”, conta Silvia.
A importância da vigilância
Conforme conta Silvia, para solucionar o problema é necessário uma rede rápida de informações sobre saúde no âmbito global. São necessários testes rápidos para que possam ser identificados, rapidamente, casos de infecções por superbactérias, e aumentos de casos registrados, por exemplo, devem ser notificados rapidamente – daí a contribuição dos profissionais de inteligência artificial.
Além disso, ela afirma que é importante desenvolver, além de antibióticos mais potentes, outros tratamentos para as bactérias: “Na própria USP existe um grupo muito importante, que vem trabalhando a possibilidade de usar uma terapia que já foi desenvolvida há muitos anos, mas terminou sendo esquecida, que é a fagoterapia”.
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