Saúde
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Por — Rio de Janeiro

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) emitiu este mês uma advertência a médicos para que fiquem atentos a pacientes com possíveis sintomas de infecção pelo vírus influenza (gripe) aviária de alta patogenicidade (IAAP/H5N1). O alerta veio na sequência da identificação de vacas leiteiras infectadas e de uma pessoa que contraiu o vírus por meio do contato com elas. A professora da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Helena Lage Ferreira, que estuda o H5N1, explica que o momento é de atenção e muita vigilância, pois o vírus continua a se espalhar pelo mundo. Mas não há motivo para pânico.

Qual a situação no mundo?

Temos uma panzootia, isto é, uma pandemia em animais. O vírus está circulando bastante entre as aves e chegou a todos os continentes, incluindo a Antártica. E ele é letal para espécies de importância comercial, como as galinhas. Mas os casos em humanos são isolados. Ele não passa de uma pessoa para outra e sim por meio do contato com animais infectados.

E o caso dos EUA?

Os EUA fazem uma vigilância muito atenta, uma estrutura grande. Não à toa a maior parte dos registros de novas espécies atingidas foi feita lá. A infecção das vacas só foi descoberta por isso, porque não havia sinais evidentes de influenza.

Como foi identificado? As vacas não tinham sinais dessa influenza, como distúrbios neurológicos?

Não. O caso veio na sequência do de cabritos de Minnesota que haviam morrido com problemas neurológicos. O vírus que os infectou foi sequenciado e se viu que era bastante parecido com o das aves. Os cabritos tinham contato com a água dada a aves domésticas. Os primeiros casos em vacas leiteiras foram detectados no Texas. Elas não tinham sinais clínicos, mas houve queda da produção de leite e do apetite e isso acendeu o alerta. O leite também positivou para a influenza. Depois surgiram casos em vacas de outros estados, como Michigan, Kansas e Novo México. O sequenciamento genético indica que são vírus aviários.

O caso humano?

É de uma pessoa que trabalha com as vacas leiteiras. Também foi um caso leve, de conjuntivite. A influenza pode causar conjuntivite e essa pessoa tinha muito vírus na conjuntiva do olho.

E o vírus?

A sequência é parecida com o achado nas vacas. Esse vírus tem uma alteração que sugere ser mais adaptado a mamíferos.

O que uma alteração dessas significa?

Ela é um degrau a mais para esse vírus aviário se adaptar a mamíferos. É o acúmulo de alterações que pode torná-lo realmente adaptado. Até agora, os mamíferos, como o ser humano, o contraem por meio de contato com as aves. Há indícios que ele poderia estar passando de um leão-marinho para outro, mas nada conclusivo. Sabemos que os vírus isolados de leões-marinhos têm seis genes de adaptação. Mas não sabemos se há realmente transmissão entre eles. São animais difíceis de estudar. Porém, precisamos estar alertas porque esse H5N1 tem infectado um número cada vez maior de espécies de mamíferos e isso ainda não tinha sido visto.

Quantas?

Essa variante específica emergiu em 2020 em aves e desde então se espalhou pelo planeta e já se adaptou a dezenas de espécies de mamíferos muito depressa. Há pelo menos 63 espécies de mamíferos com infecção conhecida, tanto de animais terrestres quanto marinhos. A princípio, isso sugere que qualquer animal estará suscetível, se tiver contato com outro doente. Isso, claro, aumenta a chance de pessoas entrarem em contato com animais doentes e de o vírus se rearranjar, como aconteceu na epidemia de 2009.

Como acontece o rearranjo?

Se uma pessoa que já está gripada contrair o vírus de ave, esses vírus podem se recombinar e formar um outro com maior capacidade de infecção para seres humanos. Em 2009 houve rearranjo de vírus influenza de porco, ave e humano.

Como está a vigilância no Brasil?

Ela tem funcionado bem no litoral do país, por onde chegam muitas aves migratórias. É principalmente a circulação dessas aves que dissemina o vírus. Mas o Brasil é muito vasto. Por isso, a vigilância é extremamente importante e as pessoas devem notificar o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) sobre casos suspeitos e nunca tocar em animais doentes. Porém, há um esforço mundial de controlar o H5N1 e evitar uma epidemia em humanos e animais de criação.

O que esse esforço representa?

Além da vigilância, o sequenciamento genético tem sido extremamente ágil e rapidamente compartilhado entre os países. Nossas sequências de vírus isolados de leões-marinhos, por exemplo, foram compartilhadas. As universidades têm contribuído. E também há como se fazer depressa uma vacina.

Também no Brasil?

Sim. O Instituto Butantan tem as sementes (a base) de uma vacina pré-pandêmica e poderia produzir um imunizante em curto prazo, se fosse necessário. Temos capacidade e experiência na produção de vacina contra a gripe. É um cenário completamente diferente do que tivemos com a Covid-19.

O Brasil atravessa a maior epidemia de dengue de sua história. Qual é o maior desafio?

Continua a ser o controle do Aedes. Enquanto não controlarmos o mosquito, a dengue nos afetará.

Também temos tido casos de vírus Oropouche, até então bem raro. O que mudou?

Como tem sintomas semelhantes, é difícil distingui-lo dos casos de dengue. Ele causa preocupação, mas não surpresa.

Por que?

Esse vírus era mais restrito a áreas de floresta da Amazônia, mas sofreu rearranjos genéticos que o tornaram capaz de infectar vetores que vivem em áreas mais urbanas. É preciso atenção com ele.

Estamos no outono e começa o período que costuma ser associado a mais casos de vírus respiratórios, inclusive influenza. É um período mais perigoso?

Existe um mito que a redução da temperatura aumenta o risco de vírus respiratórios. O que aumenta a possibilidade de contrair uma infecção é a aglomeração, não importa se está frio ou quente. O verão quente, com pessoas aglomeradas em ambientes refrigerados, também traz riscos.

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