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GERADO EM: 24/11/2024 - 16:08

"Algoritmos médicos e racismo: a necessidade de abandonar critérios raciais na medicina"

Algoritmos médicos perpetuam racismo ao usar "raça" como critério, afetando diagnósticos e tratamentos. O conceito de raça não tem base biológica, mas sim social. Essa prática prejudica pacientes e reforça desigualdades. A medicina precisa abandonar esses marcadores raciais para combater o racismo estrutural na área.

Um algoritmo é um conjunto de regras encadeadas de maneira lógica. O algoritmo do YouTube, por exemplo, é o sistema de regras que o site usa para decidir quais vídeos oferecer para você, com base nos que você assistiu antes. A estrutura básica é: se aconteceu isso, faça aquilo. Em medicina, existem propostas de algoritmos para decidir diagnósticos ou tratamentos: se o exame deu esse resultado, receite isso; se deu aquele, peça um exame extra; e assim por diante.

Existem algoritmos de diagnóstico médico que ainda usam “raças” como marcadores. Isso quer dizer que pessoas com os mesmos resultados nos exames podem receber diagnósticos diferentes – por causa da cor da pele. Algoritmos que consideram “raça” como dado relevante incluem alguns usados para avaliar insuficiência renal, capacidade respiratória e, até, tipo de parto recomendado (natural ou cesárea).

Criados nos Estados Unidos, esses algoritmos “racializados” tornam-se parte da literatura científica global (alguns até são operacionalizados por meio de aplicativos) e podem acabar sendo acessados e adotados por profissionais de saúde de todo o mundo.

O problema é que raça é um conceito social, não biológico. Geneticamente, humanos são 99,9% iguais. Em 2023, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos descreveu o conceito de “raça” como “um construto social” e também como “uma concepção errada de que seres humanos podem ser naturalmente divididos em raças biologicamente distintas”.

Apesar do consenso científico, algumas ferramentas na medicina continuam a usar raça como marcador. Isso pode prejudicar pacientes e perpetuar preconceitos. No caso do algoritmo recomendado nos Estados Unidos até 2021 para avaliar função renal, por exemplo, o indicador era empurrado para cima quando o paciente era negro, dando a impressão de uma função renal melhor do que realmente era. A explicação histórica para isso é a crença — sem base científica — de que pessoas negras têm mais massa muscular e isso afetaria a avaliação de capacidade renal. O resultado prático foi muita gente ficando sem o diagnóstico adequado, atrasando tratamentos e até ficando fora da lista de transplantes.

As sociedades de nefrologia americanas recomendaram abandonar o algoritmo, depois de vários estudos terem demonstrado que removê-lo resultaria em reclassificar, corretamente, um terço dos pacientes negros como portadores de doença renal grave.

No caso da função respiratória, a crença não justificada —que data da época da escravidão — é a de que negros têm capacidade pulmonar menor, e por isso precisariam de mais exercício físico. Na obstetrícia, acreditava-se que mulheres negras têm menor probabilidade de um parto vaginal bem-sucedido, após uma cesárea.

Esta crença tem base empírica, baseada em estatística, mas não leva em conta que as diferenças observadas têm causa social, não biológica. O algoritmo, neste caso, acaba perpetuando e acentuando desigualdades sociais.

Diferenças raciais, impostas pelo meio social, geram disparidades e desigualdades que têm consequências na medicina. Afetam probabilidades e resultados de tratamentos. Mas usar marcadores raciais como se fossem determinantes biológicos não ajuda a consertar as questões sociais. Bem pelo contrário, justifica e exacerba o racismo estrutural, e deseduca tanto a comunidade médica como a população, que seguem acreditando que existem diferenças genéticas relevantes que podem ser identificadas na cor da pele. Semana passada, o Brasil celebrou o Dia da Consciência Negra. Que ele traga a consciência de que a biologização do papel da raça na saúde também precisa ser combatida.

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