Governo Trump retira indicação de médico antivacina a agência de saúde em meio a surto de sarampo e temor sobre gripe aviária
Médico e ex-parlamentar David Weldon, de 71 anos, disse ter sido comunicado pela Casa Branca sobre desistência; ele nega rótulo, embora tenha promovido teorias falsas ligando imunizantes infantis a autismo
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RESUMO
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GERADO EM: 13/03/2025 - 13:29
Trump retira nomeação de David Weldon para o CDC em meio a crises de saúde pública
O governo Trump retirou a indicação de David Weldon para liderar o CDC, em meio a um surto de sarampo e preocupações com a gripe aviária. Weldon, acusado de promover teorias antivacina, teria dificuldade em ser confirmado pelo Senado, apesar da maioria republicana. Sua nomeação gerou críticas devido ao histórico de desinformação sobre vacinas, enquanto o país enfrenta crises de saúde pública.
A Casa Branca recuou e retirou nesta quinta-feira a candidatura apresentada à Comissão do Senado sobre Educação em Saúde, Trabalho e Pensões do médico e ex-parlamentar David Weldon, indicado do presidente Donald Trump para liderar os Centros de Controle de Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), agência de saúde mais importante dos EUA — que, entre outras atribuições, é responsável por campanhas de vacinação no país. Weldon, que já espalhou teorias falsas que ligam imunizantes infantis ao autismo, seria sabatinado em um momento em que os EUA enfrentam um surto de sarampo em alguns estados e se preparam para a ameaça da gripe aviária.
O indicado de Trump, de 71 anos, afirmou que soube da decisão da Casa Branca na noite de quarta-feira. Ele foi contatado por um funcionário, que lhe informou que o governo "não tinha votos" para confirmar sua nomeação — mesmo com o Partido Republicano tendo maioria no Congresso. Amigo pessoal e alinhado ao pensamento do secretário de Saúde americano, Robert Kennedy Jr., Weldon lamentou não poder contribuir para a polêmica agenda "Make America Health Again" ("Faça a América Saudável Novamente", lema inspirado no slogan de campanha de Trump), mas se disse em paz com a decisão do governo.
— É um choque, mas, você sabe, de certa forma, é um alívio. Os empregos no governo exigem muito de você, e se Deus não me quer nele, estou bem com isso — disse o médico. — Vou atender pacientes na segunda-feira. Vou ganhar muito mais dinheiro permanecendo na minha clínica médica.
Clínico geral por formação, Weldon chegou à Câmara dos Representantes dos EUA pela primeira vez nas eleições de 1994, quando concorreu para se opor aos esforços da então primeira-dama Hillary Clinton para garantir assistência médica universal. Ele continuou servindo no Congresso até 2009. Sua principal conquista legislativa foi a Emenda Weldon, que proíbe agências de saúde de discriminar hospitais ou planos de saúde que optem por não fornecer ou pagar por abortos.
Ao longo de sua carreira médica e atuação pública, a primeira escolha de Trump para chefiar o CDC acumulou polêmicas sobre a vacinação. Ele promoveu repetidamente a tese de que o timerosal, um conservante à base de mercúrio usado em vacinas — e que foi removido de vacinas infantis em 2001 — estaria relacionado a casos de autismo em crianças. Quando parlamentar, chegou a acusar o CDC de encobrimento de casos, e apresentou um projeto de lei que tentava retirar o poder da agência de supervisionar a segurança das vacinas.
Ele também já questionou a necessidade de imunizar crianças contra a hepatite B, doença viral que ataca o fígado e é uma das principais causas de morte por hepatite, descrevendo-a principalmente como uma doença sexualmente transmissível — o médico também defende a abstinência como forma mais eficaz de conter doenças sexualmente transmissíveis.
Apesar de seu histórico pessoal, Weldon se descreve como um defensor da vacinação. Ele argumenta que seus dois filhos adultos estão totalmente imunizados, e que em sua atuação como médico na Flórida, prescreve milhares de doses de vacinas.
— Fui descrito como antivacina, [mas] eu dou injeções. Eu acredito na vacinação — afirmou.
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Preocupação com crises e desinformação
Mesmo com a retirada do indicado de Trump, especialistas apontam que a atuação do governo federal na saúde com Kennedy, que ganhou altos honorários como advogado processando o órgão federal para compensar pessoas que tiveram efeitos colaterais da vacinação, é motivo de preocupação.
Sob a liderança de Kennedy, o Departamento de Saúde americano fez mudanças apontadas como potencialmente negativas. Em fevereiro, o CDC encerrou uma campanha publicitária bem-sucedida que incentivava as pessoas a tomarem a vacina contra a gripe — o secretário declarou anteriormente que "a decisão de vacinar é pessoal".
A mudança ocorreu enquanto os EUA lutam contra sua pior temporada de gripe em mais de 15 anos. O país também enfrenta um surto significativo de sarampo no Texas e no Novo México, com mais de 250 casos confirmados e duas mortes, e à sombra de uma possível epidemia de gripe aviária. Enquanto isso, o governo Trump demitiu milhares de funcionários em agências federais de saúde, incluindo centenas no CDC.
— Não entendo por que, enquanto os EUA estão atualmente lutando contra vários surtos mortais, o Departamento de Saúde tomaria qualquer ação para minar a confiança dos americanos ou restringir sua capacidade de acessar vacinas que salvam vidas — disse Jennifer Nuzzo, professora de epidemiologia na Universidade Brown, que aconselha governos sobre preparação para pandemias.
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O CDC enviou uma equipe de especialistas para o Texas depois que o Departamento de Saúde estadual solicitou ajuda federal para rastrear o surto de sarampo. Katherine Wells, diretora de saúde pública em Lubbock, disse que estava vendo pais que antes não vacinavam seus filhos começarem a ir às clínicas móveis e levar o vírus a sério.
— O mais importante é vacinar as pessoas que não foram vacinadas — disse.
Para especialistas em saúde pública que se preocupavam com Weldon e ainda creem que Kennedy pode corroer a confiança nas vacinas, os casos no Texas podem ser um sinal do que está por vir.
— Este é apenas o começo — disse Angela Rasmussen, virologista e cientista pesquisadora da Universidade de Saskatchewan. — Muita dessa desinformação vai fazer com que esses surtos sejam piores. (Com AFP, NYT e Bloomberg)
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