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Aulas de capoeira levam autonomia a pacientes com Parkinson no RJ

Iniciativa adapta movimentos para estimular equilíbrio, cognição e autoestima de pessoas com a doença

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Rio de Janeiro

A combinação entre ginga, musicalidade e fisioterapia virou método de reabilitação para idosos com Parkinson no bairro da Lapa, no centro do Rio de Janeiro. O projeto Parkinson na Ginga, idealizado pela fisioterapeuta Rosimeire Peixoto, 60, une os fundamentos da capoeira a protocolos clínicos de cuidado motor e cognitivo.

O trabalho ocorre de forma social e os participantes pagam um valor fixo para manter o espaço onde ocorrem as aulas. Caso a pessoa não possa pagar por determinado valor, ele é atendido e acolhido da mesma forma.

A proposta nasceu da experiência com pacientes neurológicos e da paixão adquirida pela capoeira, esporte que ela pratica há 17 anos. Inquieta com os limites dos métodos tradicionais, decidiu usar a dança como ferramenta terapêutica. "A capoeira é multifatorial. Além da parte motora, ela também melhora a depressão, ansiedade, o sono e outras alterações não motoras", afirma.

roda de capoeira, com oito pessoas vestidas de branco com braços abertos interligados formando um círculo fechado; A maioria são mulheres
Integrantes do Parkinson na Ginga, projeto que leva autonomia a idosos com Parkinson por meio da capoeira no Rio - Divulgação

A doença neurodegenerativa afeta principalmente pessoas acima dos 60 anos e compromete progressivamente o sistema motor. Mas, segundo Peixoto, os sintomas começam até dez anos antes do diagnóstico, período marcado por alterações não motoras, como distúrbios do sono, ansiedade e depressão.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quatro milhões de pessoas no mundo convivem com a condição. No Brasil, estima-se que cerca de 200 mil pessoas tenham o diagnóstico.

Além do impacto físico, o Parkinson afeta a vida social e emocional dos pacientes. Ronaldo Maurício de Freitas, 54, diz que sentia vergonha de ter a condição. Ele recebeu o diagnóstico da doença há dez anos e não falava abertamente sobre o problema com os amigos do bairro. A condição o afastou do trabalho e fez com que ele ficasse mais em casa, já que antes atuava como promotor de vendas.

homem negro careca vestido de branco de roupas de capoeira dá chute em outro homem branco em sua frente também com roupas de capoeira, com outros praticantes do esporte ao fundo jogando capoeira
Aulas desenvolvem equilíbrio e coordenação motora entre pacientes com a doença neurodegenerativa - Divulgação

Depois que iniciou as aulas, seis anos atrás, sentiu uma melhora no equilíbrio e ganhou mais autonomia. "Antes minhas pernas travavam e eu tinha dificuldade para dormir. Agora já vou para a aula sozinho e gosto bastante. Voltei a digitar no celular também", diz. "Até banho e outras atividades faço sozinho", complementa o aposentado que mora na Ilha do Governador.

No projeto, os alunos são avaliados com escalas clínicas que indicam o grau de progressão da doença. A partir disso, a fisioterapeuta prescreve exercícios adaptados com base nos movimentos da capoeira, respeitando as limitações e potencialidades de cada integrante. "Alguns têm mais instabilidade postural, outros apresentam rigidez no tronco. Por isso, monto protocolos que envolvem rotação, equilíbrio, cama elástica e até obstáculos, para que consigam melhorar a marcha e a coordenação", explica a coordenadora do projeto.

A "ginga" serve como base da metodologia, mas o trabalho vai além da movimentação. "Eles treinam dupla tarefa, respondem ao coro da música enquanto se movimentam. Isso melhora a memória, atenção, tempo de reação e até a postura. Muitos chegam curvados e, em poucos meses, já se corrigem naturalmente."

As aulas também são espaço para desenvolver autonomia e confiança. "Eles fazem sozinhos, em duplas, sem que ninguém precise segurar. Isso gera autoestima e melhora funcional visível."

A professora aposentada Nilma Teles, 80, é uma das frequentadoras do projeto há mais de seis anos e conta que a prática mudou a sua rotina. Ela recebeu o diagnóstico aos 69 anos e não lidava bem com os efeitos do Parkinson. "Hoje foi o melhor que aconteceu em minha vida. Sentia insegurança em socializar e, principalmente, em diferentes grupos. Atualmente, consigo assumir a doença sem medo e sem preconceito", conta.

Além do convívio social, as mudanças físicas foram perceptíveis, segundo a aposentada. "Eu caía sempre e vivia com os braços engessados. Hoje tenho mais equilíbrio, consigo me manter caminhando e não caio mais", diz.

Embora a maior parte dos participantes tenha mais de 60 anos, a idealizadora do projeto também recebe casos precoces, de pessoas na faixa dos 40. Segundo ela, o principal desafio dos mais jovens é a aceitação do diagnóstico. "Acho que é a parte mais difícil", reforça.

Ela destaca ainda que, além do cuidado físico, o projeto proporciona apoio emocional e social. O Parkinson na Ginga é um esforço coletivo. A fisioterapeuta conta com o apoio da própria família e de colegas da capoeira para manter o projeto funcionando. Segundo ela, o maior desafio atualmente é ter apoio na divulgação do projeto, tanto de forma pública quanto privada. A ideia é levar a prática para mais estados e até para fora do Brasil.

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Comentários

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Jane Medeiros

20.mai.2025 às 12h15

O Parkinson é uma doença devastadora! Impacta a vida do paciente como um todo! Além da fisioterapia, contar com o recurso da capoeira voltada aos portadores desta doença é algo fantástico! Parabéns a todos os envolvidos neste projeto!